Por: Rafael Rodrigues
Com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância do combate à homofobia para a construção de uma sociedade livre de preconceitos e igualitária, independente do gênero sexual, no dia 28 de junho, é comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Pessoas Intersexo, Assexuais, entre outros).
O Dia do Orgulho LGBTQIA+ foi criado em homenagem a luta da comunidade gay pelos seus direitos: a Rebelião de Stonewall Inn. Em 1969, esta data marcou a revolta da comunidade contra uma série de invasões da polícia de Nova York aos bares que eram frequentados por homossexuais, que eram presos e sofriam represálias por parte das autoridades. A partir deste acontecimento foram organizados vários protestos em favor dos direitos dos homossexuais por várias cidades norte-americanas.

A 1ª Parada do Orgulho Gay foi organizada no ano seguinte (1970), para lembrar e fortalecer o movimento de luta contra o preconceito. Atualmente, o evento tem edições em diversas parte do mundo como o Reino Unido, Austrália, México, Estados Unidos e aqui no Brasil, com o apoio da comunidade artística, empresas, imprensa e meios de comunicação.
A moda sempre andou de mãos dadas com a comunidade LGBTQIA+ de várias formas, se renovando através do consumo midiático como imagens, músicas, vídeos, movimentos e cultura das ruas. O primeiro vislumbre foi o hibridismo com a cultura queer, onde há discussão sobre gênero e identidade, principalmente no ambiente cultural e profissional. Um exemplo também foi a música Vogue, da cantora Madonna, considerada a maior música do movimento, segundo o Grammy. Tal marco teve seu estouro nos anos 90, destacando os Ballrooms, o voguing e a cultura das categorias, onde os participantes se vestiam de acordo com a temática proposta em um mix com a estética própria. Atualmente são explorados através de mídias como a série Pose, Rupaul’s Drag Race e o reality Legendary.
Atualmente, há mais produtos, coleções e propostas para a cultura gay, a partir da ampliação dos direitos LGBTQIA+, visibilidade midiática em todas as frentes (música, premiações, filmes, séries, cultura drag, reality e moda), inserção de homens e mulheres gays e trans na política, educação e aumento do poder aquisitivo da comunidade.
Pensando em aprofundar mais sobre essa importante data, além de dar visibilidade a quem está na linha de frente e atuante no movimento LGBTQIA+, a empresa se uniu a profissionais LGBT que atuam na produção de moda e costura para apresentar seus trabalhos e mostrar o seu ponto de vista pessoal sobre o assunto:
Mateus Melo | Engenheiro de Upcycling e Fundador da Reborn – Rework • Upcycling • Patchwork •
“Moda é liberdade de expressão, você mostrar quem você é. Eu sou apaixonado por moda desde os 14 anos, e sempre usei a moda como uma arma para lidar com pessoas preconceituosas. É lindo ver que mesmo em uma cidade pequena como Cataguases, existem várias pessoas que usam a moda a seu favor e da sua maneira, fico muito feliz com isso. Por isso, hoje em dia resolvi criar minha marca e entrar de cabeça no ramo”.
Mateus conta que começou nesse universo da moda desde criança. “Eu sempre gostei de costurar. Dos meus 14 aos 19, anos eu costurava muito na mão, até ganhar minha primeira máquina. Fui aprendendo aos poucos como usá-la, costurando roupas para uso próprio, até que no ano passado eu resolvi fazer um curso de costura, com uma professora excelente, ela me ensinou alguns truques que me ajudam muito na produção de peças rework e upcycling, e hoje eu consigo criar minha marca, a partir de peças que acabariam no lixo, que ficariam guardadas pra sempre por ser fora da moda atual, ou que estão com leves defeitos. Eu consigo recriar e transformar em peças novas e exclusivas.”, destaca. Sobre a importância de ter um profissional LGBTQIA+ atuando na cidade, Mateus afirma que é necessário se impor e ter foco no que quer fazer, além de se atentar aos estudos. “Para todos que são LGBTQIA+, temos que mostrar nossa voz, nossa arte, mostrar que temos o direito de fazer parte de qualquer projeto que tivermos vontade e sonho de trabalhar, e não aonde acham que é nosso espaço, nosso lugar é aonde a gente quiser, onde nosso talento nos levar.”, finaliza.
Gustavo Santana – Designer de Moda e produtor da Santana Ateliê
“É fundamental ter talentos LGBTQIA+ trabalhando no município e simplesmente trazer o novo e a modernidade. São pessoas como qualquer uma outra, porém são indivíduos incríveis e inteligentes que muitas das vezes estão escondidas e oprimidas pelas a sociedade. Falta oportunidade, eles precisam ser vistos”.

O Designer Gustavo Santana Felizardo, relata que motivação na área da moda sempre foi a sensação de liberdade. ” Eu sou uma pessoa muito criativa, mas não no padrão e, sim, sempre atrás de algo novo e diferente que fugia das normas, ainda mais nessa área da costura, de criar, eu vi uma possibilidade de fazer minha identidade.”.
“Minha vó sempre tentou me ensinar o básico da costura e eu sempre prestei muita atenção. Nisso, uma prima minha me desafiou a fazer um look pra ela e eu aceitei. Foi ai que tudo começou. Logo depois, aceitei um convite pra participar do projeto de moda no Instituto Francisca de Souza Peixoto, aonde eu tive a oportunidade de receber e compartilhar ensinamentos. Depois, comecei a oferecer meu serviços de costura pra fora e confeccionar roupas para clientes. Atualmente, devido a pandemia, me adaptei e estou trabalhando em casa e fazendo a graduação em Design de Moda, estou cada vez mais procurando me aperfeiçoar na área”, reitera.
Davison Patrik de Oliveira Firmino | Designer de Moda
“Eu escolhi a moda como ferramenta de trabalho pelo simples fato que roupa é muito mais que tecidos cortados e modelados. A roupa fala, transmite sensações, transmite identidade. Através do estilo juntamente com a moda, você consegue identificar uma pessoa, seu gosto, o seu jeito”.

Davison fez a monografia totalmente voltada para a comunidade LGBTQIA+ e se formou em Design de moda para trabalhar na área e criar seu próprio fundamento de beleza. “Quem cria o padrão somos nós. No futuro próximo, depois que passar essa pandemia, quero trabalhar com uma loja própria, trazendo roupas diferenciadas, de gala e sob medida, além de acessórios. Cataguases é uma cidade bem diferenciada. O povo daqui é singular e único. E falta quem represente o município neste ramo.”, destaca.
A dica dele à profissionais queer é bem simples: “Seja sempre você mesmo. E não perca a essência dentro desse universo lindo. Não é só glamour, tem a parte social, educativa, que de fato é pouco falada. Se você se dedicar e dar o seu melhor sem perder a essência, o sucesso e o reconhecimento vão chegar.”, explica. Abaixo, alguns dos seus trabalhos.